sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Se vai conduzir nas estradas do Alentejo, tenha cuidado com os javalis | iOnline

Se vai conduzir nas estradas do Alentejo, tenha cuidado com os javalis | iOnline

Estudo da Universidade de Évora abriu a porta à discussão de como prevenir acidentes rodoviários com javalis. Há cada vez mais casos registados nas estradas portuguesas.

“Parecia que estava a bater numa rocha.” A sensação foi descrita por quem colidiu a alta velocidade, e em plena auto-estrada, com um animal que pode chegar a pesar 200 quilos: um javali. Este tipo de acidentes deixou de ser insólito e até foi alvo de um estudo realizado pela Universidade de Évora, cujos resultados preliminares pretendem ajudar a desenvolver meios de prevenção de atropelamento de animais desta espécie em Portugal.
A noite era de nevoeiro. Traído pela visibilidade reduzida e pela surpresa do momento, Ricardo Trindade acabou por bater com o seu carro num javali que se cruzou à sua frente no meio da A23 – auto-estrada que liga Torres Novas à Guarda. “O capô voou uns 100 metros com o embate”, contou. O caso de Ricardo serve como exemplo de “uma situação cada vez mais grave”, alertou Estrela Matilde, mestre em Biologia de Conservação e responsável pelo recente estudo sobre métodos de previsão e prevenção de acidentes rodoviários com javalis.
A investigação mostrou 221 acidentes deste tipo registados entre 2000 e 2011 por destacamentos da GNR, só nos cinco distritos do Sul do país – Portalegre, Setúbal, Beja, Évora e Faro.

Alentejo com Maior risco Caso pretenda circular numa estrada nacional ou municipal alentejana, sobretudo em Évora e Beja, tenha cuidado – são os distritos onde há mais troços com elevado risco de atropelamento de javalis. O estudo indicou o Alentejo como a área onde “é mais importante e urgente actuar”, devido aos vários troços “pertencentes a estradas sem cercas e rails de protecção”. A região tornou- -se “atractiva” para o javali graças à “disponibilidade de alimento, de abrigo” e ao “abandono de terrenos agrícolas”. No total dos cinco distritos foram apontados 1123 troços onde o risco de atropelar um javali é muito elevado.
No entanto, o número de acidentes registado pode até ser “uma amostra muito pequena da realidade”, lembrou a bióloga, pois “muitas vezes as pessoas não chegam a chamar” as autoridades. Questionada por números deste tipo de ocorrências no resto do país, a GNR apenas respondeu ao i que não dispunha “dos dados estatísticos solicitados”. Na Europa estima-se que por ano morram cerca de 300 pessoas devido aos mais de 500 mil acidentes rodoviários com espécies de ungulados – além do javali, são animais como o veado ou o cavalo. Em custos materiais, isto traduz--se em cerca de 735 mil milhões de euros anuais.
No caso de Ricardo Trindade, estes custos rondaram os 3 mil euros. Logo após o seu acidente, o condutor cometeu o erro de telefonar para a concessionária, a SCUT Vias, antes de informar as autoridades. Assim que o funcionário da empresa chegou ao local, apressou-se a pegar no cadáver do animal e a enterrá--lo à beira da estrada. Resultado: “A Scut Vias declinou todas as responsabilidades, dizendo que não tinha registos de qualquer acidente com um animal nesse dia”, contou. Contactada pelo i, a concessionária disse que “não podia” ceder informações sobre “registos internos”.
Mas afinal o que transformou o javali, uma espécie que chegou a estar em vias de extinção na década de 60 do século passado, numa das espécies hoje mais envolvidas em acidentes rodoviários em Portugal? As razões não podem ser avançadas com certeza, mas há sugestões. “É a consequência da construção errada de estradas”, argumentou Estrela Matilde, em jeito de lamento pelo facto de “muitas vezes” as vias “cortarem” habitats “ao meio” e erguerem “barreiras ecológicas à movimentação de espécies animais”. Isto, porém, não tem impedido “as populações de javalis de crescerem muito”. Para a bióloga, o estudo pode ser “um ponto de partida” para delinear medidas de prevenção de acidentes. “Passa muito por colocar barreiras ao acesso dos animais à estrada” e por “alertar os condutores”, sugeriu.

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