É a ciência que faz rir e depois pensar. Os prémios Ig Nóbeis nascem em 1991, ano em que a revista “Annals of Improbable Research” decide animar o mundo sério da ciência com um galardão absurdo mas que ninguém tem recusado. Distingue estudos que até podem ser uma revolução mas parecem só parvos. A gala de 2012 foi ontem à noite na Universidade de Harvard. Contou com a presença de Nóbeis genuínos, prova de há gente experiente que lhes dá crédito. Em 2010, Andre Geim tornou-se o primeiro Ig Nobel a receber um Nobel a sério, por estudos pioneiros sobre o grafeno. Dez anos antes tinha dado à estampa um estudo sobre magnetos e rãs que levitam. Um bom motivo para não perder já a fé nos laureados deste ano.
A torre eiffel e DE como a postura afecta o raciocínio
“Estar inclinado para a esquerda faz a Torre Eiffel parecer mais pequena: estimativas moduladas pela postura.” O trabalho dos cientistas holandeses Anita Eerland e Rolf Zwaan – que se casam este fim-de-semana e, por isso, não foram aos EUA receber o prémio, refere pertinentemente o comunicado da revista “Annals of Improbable Research” – e do colega peruano Tulio Guadalupe pode parecer um bocado rebuscado e recebeu uma série de críticas na comunidade científica, nem todas boas. Os investigadores em psicologia alegam que a postura corporal afecta a tomada de decisão, bem como a memória ou as emoções.
FAÇAM DIAMANTES E NÃO A GUERRA
O Ig Nobel da Paz, nem sempre ligado ao campo da investigação, é sempre um dos mais mordazes. Em 1996 foi entregue ao presidente francês Jacques Chirac por comemorar o 50.º aniversário dos bombardeamentos de Hiroshima com testes nucleares no Pacífico e, em 2007, a uma equipa de cientistas da Força Aérea norte- -americana, por ter sugerido que um novo equipamento tipo “bomba gay” poderia atrair as tropas inimigas (facto verídico). Este ano vai para a empresa russa SKN (www.skn-nd.ru) por ter inventado um método que permite rebentar antigas munições e recolher pó de nanodiamantes.
A fantástica actividade cerebral do salmão morto
É a primeira vez na história dos Ig Nóbeis que há um prémio para a neurociência. Como esta área da biologia está em alta, a revista aproveita para gozar com o entusiasmo da classe a partir de um poster científico disponível na internet: quatro cientistas americanos confrontaram um peixe morto com imagens para avaliarem a sua estrutura cerebral. Levam o prémio “por demonstrarem que os cientistas do cérebro, usando instrumentos complicados e estatísticas simples, conseguem ver actividade cerebral com significado em todo o lado – mesmo num salmão morto”.
O mistério do cabelo verde algures na suécia
Nunca a química esteve tão ao serviço do comum cidadão sueco como no final do ano passado, e só isso faz com que Johan Pettersson, actualmente funcionário da Agência para os Refugiados da ONU no Ruanda, seja laureado com um Ig Nobel. O investigador conseguiu descortinar porque é que alguns habitantes loiros de Anderslöv, no sul da Suécia, começaram a ficar com o cabelo verde. O problema estava em canalizações mal revestidas numa zona de casas novas. Com o aquecimento, libertavam partículas de cobre na água e tingiam o cabelo. A solução foi passar a filtrar a água ou tomar banho de água fria.
O universo literário dos estudos sobre estudos
O Ig Nobel da Literatura vai este ano para o departamento de fiscalização do Congresso dos EUA. Em Maio, este órgão responsável por auditorias e avaliações do Congresso norte-americano publicou um relatório que determina as acções necessárias para que os estudos que o Departamento de Defesa faz sobre os custos de estudos e relatórios passassem a ter um maior impacto nos estudos que são feitos. No ano passado, o prémio foi para o investigador de Stanford John Pery, pela máxima teórica “Para ter sucesso, dedique-se a trabalhar em algo importante e use isso para evitar fazer qualquer coisa mais importante”.
A ciência do rabo-de-cavalo
A forma do rabo-de-cavalo era há muito um quebra-cabeças da física e foi este ano desmontada por duas equipas dos EUA e do Reino Unido. A revista estava atenta, como sempre, e dá-lhes o merecido Ig Nobel. Os britânicos são os mais avançados: em Fevereiro publicaram uma equação que prevê a forma do rabo-de-cavalo com base no encaracolamento do cabelo. Consideram que este problema – temos mais de 100 mil fios de cabelo e nem todos são apanhados – aborda de forma simples os efeitos da elasticidade, gravidade e interacção de filamentos, algo que poderá contribuir para melhores fibras sintéticas.
Como beber café a andar e sem entornar
Também nunca tinha havido um Ig Nobel para a dinâmica de fluidos, mas um estudo com cálculos físicos para a melhor forma de não entornar café em movimento estava mesmo a pedi-las.
Dois engenheiros mecânicos da Universidade da Califórnia observaram várias cobaias a transportar canecas de café e apresentaram em Maio resultados realmente fantásticos: nas canecas normais, a oscilação do café é semelhante à do passo das pessoas, o que causa os derrames. A maioria dos acidentes acontece entre o sétimo e o décimo passo e uma boa forma de os evitar é encher pouco a caneca e andar devagar, concluíram.
Os chimpanzés estão muito À frente
O trabalho que vale um Ig Nobel a dois cientistas da Universidade Emory, EUA, descobriu que os primatas associam imagens da parte de trás de um parceiro a um focinho feminino ou masculino, mas só nos chimpanzés que conhecem. Conseguem mesmo acertar no focinho do companheiro certo só vendo a parte de trás, o que sugere que o reconhecimento imediato do outro usa mais informação que o rosto. Para que serve isto? Para reiterar que são muito mais sofisticados e espertos do que se pensava, pelo menos até ao próximo estudo. “Somos sérios, mas gostamos de rir de vez em quando”, disseram os autores sobre o prémio.
Como não explodir doentes durante a colonoscopia
Quando Emmanuel Ben-Soussan, médico de uma clínica parisiense, recebeu o telefonema da revista, achou que estavam a gozar: afinal, o trabalho sobre os riscos das colonoscopias é sério e levou a Sociedade Europeia de Gastrenterologia a alterar normas clínicas. “Finalmente, pensei, por que não?”, conta. O trabalho distinguido alerta para o risco de explosões durante a colonoscopia que podem perfurar o intestino: o colonoscópio serve de ignição e o metano nos intestinos de combustível. Entretanto recomendaram substituir componentes eléctricas por laser e limpar totalmente as fezes antes de avançar.
Ouçam o que estão a dizer, senhores deputados
O Ig Nobel da Acústica vai este ano para Kazutaka Kurihara e Koji Tsukada, investigadores no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada, em Ibaraki, Japão. Criaram uma máquina que grava discursos em tempo real e permite aos interlocutores ouvirem com um ligeiro atraso o que estão a dizer. Kurihara, que sempre quis ser um “cientista maluco” e por isso se sente feliz com o prémio, revelou ao i que o objectivo é equipar parlamentos com este aparelho para tornar as discussões mais frutuosas. “Seria útil para o vosso país também. Muitas vezes, os maus resultados são provocados pelos líderes políticos.”
“Estar inclinado para a esquerda faz a Torre Eiffel parecer mais pequena: estimativas moduladas pela postura.” O trabalho dos cientistas holandeses Anita Eerland e Rolf Zwaan – que se casam este fim-de-semana e, por isso, não foram aos EUA receber o prémio, refere pertinentemente o comunicado da revista “Annals of Improbable Research” – e do colega peruano Tulio Guadalupe pode parecer um bocado rebuscado e recebeu uma série de críticas na comunidade científica, nem todas boas. Os investigadores em psicologia alegam que a postura corporal afecta a tomada de decisão, bem como a memória ou as emoções.
FAÇAM DIAMANTES E NÃO A GUERRA
O Ig Nobel da Paz, nem sempre ligado ao campo da investigação, é sempre um dos mais mordazes. Em 1996 foi entregue ao presidente francês Jacques Chirac por comemorar o 50.º aniversário dos bombardeamentos de Hiroshima com testes nucleares no Pacífico e, em 2007, a uma equipa de cientistas da Força Aérea norte- -americana, por ter sugerido que um novo equipamento tipo “bomba gay” poderia atrair as tropas inimigas (facto verídico). Este ano vai para a empresa russa SKN (www.skn-nd.ru) por ter inventado um método que permite rebentar antigas munições e recolher pó de nanodiamantes.
A fantástica actividade cerebral do salmão morto
É a primeira vez na história dos Ig Nóbeis que há um prémio para a neurociência. Como esta área da biologia está em alta, a revista aproveita para gozar com o entusiasmo da classe a partir de um poster científico disponível na internet: quatro cientistas americanos confrontaram um peixe morto com imagens para avaliarem a sua estrutura cerebral. Levam o prémio “por demonstrarem que os cientistas do cérebro, usando instrumentos complicados e estatísticas simples, conseguem ver actividade cerebral com significado em todo o lado – mesmo num salmão morto”.
O mistério do cabelo verde algures na suécia
Nunca a química esteve tão ao serviço do comum cidadão sueco como no final do ano passado, e só isso faz com que Johan Pettersson, actualmente funcionário da Agência para os Refugiados da ONU no Ruanda, seja laureado com um Ig Nobel. O investigador conseguiu descortinar porque é que alguns habitantes loiros de Anderslöv, no sul da Suécia, começaram a ficar com o cabelo verde. O problema estava em canalizações mal revestidas numa zona de casas novas. Com o aquecimento, libertavam partículas de cobre na água e tingiam o cabelo. A solução foi passar a filtrar a água ou tomar banho de água fria.
O universo literário dos estudos sobre estudos
O Ig Nobel da Literatura vai este ano para o departamento de fiscalização do Congresso dos EUA. Em Maio, este órgão responsável por auditorias e avaliações do Congresso norte-americano publicou um relatório que determina as acções necessárias para que os estudos que o Departamento de Defesa faz sobre os custos de estudos e relatórios passassem a ter um maior impacto nos estudos que são feitos. No ano passado, o prémio foi para o investigador de Stanford John Pery, pela máxima teórica “Para ter sucesso, dedique-se a trabalhar em algo importante e use isso para evitar fazer qualquer coisa mais importante”.
A ciência do rabo-de-cavalo
A forma do rabo-de-cavalo era há muito um quebra-cabeças da física e foi este ano desmontada por duas equipas dos EUA e do Reino Unido. A revista estava atenta, como sempre, e dá-lhes o merecido Ig Nobel. Os britânicos são os mais avançados: em Fevereiro publicaram uma equação que prevê a forma do rabo-de-cavalo com base no encaracolamento do cabelo. Consideram que este problema – temos mais de 100 mil fios de cabelo e nem todos são apanhados – aborda de forma simples os efeitos da elasticidade, gravidade e interacção de filamentos, algo que poderá contribuir para melhores fibras sintéticas.
Como beber café a andar e sem entornar
Também nunca tinha havido um Ig Nobel para a dinâmica de fluidos, mas um estudo com cálculos físicos para a melhor forma de não entornar café em movimento estava mesmo a pedi-las.
Dois engenheiros mecânicos da Universidade da Califórnia observaram várias cobaias a transportar canecas de café e apresentaram em Maio resultados realmente fantásticos: nas canecas normais, a oscilação do café é semelhante à do passo das pessoas, o que causa os derrames. A maioria dos acidentes acontece entre o sétimo e o décimo passo e uma boa forma de os evitar é encher pouco a caneca e andar devagar, concluíram.
Os chimpanzés estão muito À frente
O trabalho que vale um Ig Nobel a dois cientistas da Universidade Emory, EUA, descobriu que os primatas associam imagens da parte de trás de um parceiro a um focinho feminino ou masculino, mas só nos chimpanzés que conhecem. Conseguem mesmo acertar no focinho do companheiro certo só vendo a parte de trás, o que sugere que o reconhecimento imediato do outro usa mais informação que o rosto. Para que serve isto? Para reiterar que são muito mais sofisticados e espertos do que se pensava, pelo menos até ao próximo estudo. “Somos sérios, mas gostamos de rir de vez em quando”, disseram os autores sobre o prémio.
Como não explodir doentes durante a colonoscopia
Quando Emmanuel Ben-Soussan, médico de uma clínica parisiense, recebeu o telefonema da revista, achou que estavam a gozar: afinal, o trabalho sobre os riscos das colonoscopias é sério e levou a Sociedade Europeia de Gastrenterologia a alterar normas clínicas. “Finalmente, pensei, por que não?”, conta. O trabalho distinguido alerta para o risco de explosões durante a colonoscopia que podem perfurar o intestino: o colonoscópio serve de ignição e o metano nos intestinos de combustível. Entretanto recomendaram substituir componentes eléctricas por laser e limpar totalmente as fezes antes de avançar.
Ouçam o que estão a dizer, senhores deputados
O Ig Nobel da Acústica vai este ano para Kazutaka Kurihara e Koji Tsukada, investigadores no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada, em Ibaraki, Japão. Criaram uma máquina que grava discursos em tempo real e permite aos interlocutores ouvirem com um ligeiro atraso o que estão a dizer. Kurihara, que sempre quis ser um “cientista maluco” e por isso se sente feliz com o prémio, revelou ao i que o objectivo é equipar parlamentos com este aparelho para tornar as discussões mais frutuosas. “Seria útil para o vosso país também. Muitas vezes, os maus resultados são provocados pelos líderes políticos.”
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