Nem o partido do presidente Anastasiades votou a favor das taxas sobre depositantes impostas por Bruxelas.
Era um voto contra anunciado. O presidente do parlamento de Chipre abriu ontem os trabalhos com um apelo aos deputados para votarem contra a “chantagem” do plano de resgate internacional imposto pelo Eurogrupo, que implicava a aplicação de taxas sobre os depósitos bancários. E nem mesmo o facto de os depositantes com menos de 20 mil euros nos bancos ficarem isentos alterou a situação e o partido do presidente de Chipre, Nicos Anastasiades, absteve-se. Com 36 votos contra e 19 abstenções, o plano de resgate do Eurogrupo foi para o caixote do lixo.
O partido Disy [União Democrática], de direita, já tinha decidido não participar no voto “porque dessa forma reforçará a posição negocial da República de Chipre”, referiu ontem à cadeia televisiva Sigma o responsável da Disy, Nicos Tornaritis.
Os restantes partidos do parlamento cipriota tomaram a mesma posição na votação do projecto destinado a aprovar o controverso resgate.
Esta posição era esperada, até porque logo após o anúncio do resgate, o Akel (Partido Progressista do Povo Trabalhador, comunista), com 19 dos 56 lugares no hemiciclo, e o Edek (Movimento para a Social-Democracia), com cinco deputados, rejeitaram o plano. O acordo também tinha merecido críticas do Diko (Partido Democrático, centro-direita, oito deputados), aliados da Disy (20 lugares), o partido do presidente.
Antes mesmo do início da sessão parlamentar foi anunciada a demissão do ministro das Finanças, Michelis Siarras, que ontem esteve em Moscovo a negociar um novo empréstimo no valor de 5 mil milhões de euros, viagem que foi duramente criticada por Angela Merkel (ver peça ao lado). No entanto, fontes do governo garantiram que o presidente Anastasiades tinha recusado a demissão antes da votação parlamentar, mas que poderá aceitá-la durante o dia de hoje, quando Siarras chegar de Moscovo. Porém, como o caos está instalado em Nicósia, fontes presidenciais garantiram ao fim do dia que o ministro das Finanças mantém a confiança de Anastasiades e afinal não será demitido.
Promessas eleitorais O presidente Anastasiades, pró-troika e pró-alemão, foi eleito em Fevereiro à segunda volta com mais de 57% dos votos. Na campanha eleitoral fez três promessas eleitorais interessantes: adiamento por três anos das privatizações exigidas por Bruxelas, recusa do envio de um auditor do Eurogrupo e do BCE para analisar as suspeitas de lavagem de dinheiro russo na banca cipriota e afastar do plano de resgate à banca os depositantes.
Acontece que, no plano aprovado pelo Eurogrupo na madrugada de sábado, o governo cipriota tinha de acelerar as privatizações de empresas estatais e, claro, aplicar uma taxa a todos os depositantes dos bancos cipriotas.
Quem é o pai da ideia? Muito se especulou sobre quem teria sido o pai da ideia da taxa sobre os depósitos. O ministro alemão das Finanças disse que a ideia não era alemã, muito embora o FMI e a Alemanha tenham sido apontados como os mais duros nesta matéria ao proporem uma taxa de 12% sobre todos os depósitos.
Gaspar: a culpa é deles E ontem, no parlamento português, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que votou a favor da medida, remeteu a responsabilidade para os cipriotas. “As autoridades cipriotas propuseram uma contribuição especial com o propósito de limitar o tamanho do envelope financeiro aos 10 mil milhões. Esta medida, juntamente com o apoio internacional, visa viabilizar o sistema bancário cipriota e salvaguardar a estabilidade.” E garantiu que em Portugal, como nos restantes estados do euro, uma medida como a contribuição especial sobre os depósitos está totalmente fora de questão.
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