Envelhecimento. Portugueses activos por cada reformado vão passar de três para um até 2050 | iOnline
Dentro de três décadas Portugal vai ter menos duas pessoas em idade activa por cada sénior acima dos 65 anos do que tem hoje. Ou melhor (e pior) dizendo, terá apenas um trabalhador, pensando na força de trabalho na faixa etária dos 20 aos 64 anos, por cada adulto pronto a reformar-se. A projecção é de uma equipa de investigadores da Universidade de Washington e das Nações Unidas que está a trabalhar na reformulação dos modelos de modelação populacional usados a nível mundial.
Os primeiros resultados dos novos métodos foram publicados ontem na “Proceedings of the National Academy of Sciences”. Os autores sugerem que os actuais modelos de projecção subestimam o aumento do grupo de idosos muito velhos (com mais de 85 anos) na maioria dos países. A conclusão mais surpreendente foi perceber como o rácio de população activa por adultos com mais de 65 anos, o índice de sustentabilidade potencial, vai degradar- -se tanto em países em desenvolvimento e emergentes, em explosão demográfica, como naqueles em que as taxas de fertilidade já não permitem a substituição de gerações.
Os dados para Portugal não surgem no novo trabalho, mas Adrian Raftery, autor do estudo, avançou ao i as projecções. De 3,4 adultos em idade activa por cada pessoa em idade de reforma em 2010, passarão a ser apenas 1,3 e 2050 e 1,2 em 2100. Dos países para já analisados (Reino Unido, Holanda, EUA, Brasil, China, Índia e Madagáscar), é possível perceber que, no final do século, só o Brasil estará tão mal, e o Reino Unido, por exemplo, terá ainda 1,6 trabalhadores por cada sénior. “A minha perspectiva é que Portugal terá das projecções mais baixas para 2050, mas outros países europeus ou alguns do Sudeste asiático também terão valores baixos”, diz Raftery. “A ONU deve produzir resultados (esperamos que com o nosso método) para todos os países nas próximas projecções oficiais, a publicar no início de 2013.”
Aumentar a idade da reforma Os autores concluem que o rácio será dramático para a maioria das economias, isto se as idades de reforma se mantiverem. Raftery admite mesmo que agora será tarde para que incentivos à natalidade possam compensar por completo o envelhecimento. Ana Alexandre Fernandes, demógrafa e professora da Universidade Nova de Lisboa, defende contudo que, em Portugal, é possível tomar medidas para que a natalidade não baixe ainda mais, como mais incentivos fiscais. “Estamos a comprometer o futuro. É um défice de pessoas que não nasceram e a nível das instâncias superiores nada tem sido feito”, diz. Já o aumento da idade de reforma é, para a especialista, inevitável. Embora não seja certo qual a idade recomendada, Fernandes não exclui um cenário em que a reforma só seja possível dez anos antes da esperança de vida média do país, perto dos 70 anos.
Amílcar Moreira, especialista em reforma e trabalho do Instituto do Envelhecimento da Universidade de Lisboa, concorda que é difícil definir o patamar ideal. Ainda assim, o aumento para os 67 anos seria o indicado a curto prazo, além de reduzir ainda mais as reformas antecipadas (actualmente congeladas até aos 55 anos). Outra ideia será ponderar a idade de reforma em função da esperança de vida específica por classe profissional, porque essa também varia. O investigador explica que este rácio, usado para avaliar a sustentabilidade demográfica das economias, tornou-se nos últimos anos grosseiro, pois cada vez menos pessoas não começam a trabalhar no final da juventude e mais continuam a trabalhar para lá dos 65 anos. Ainda assim, deve ser encarado com preocupação, principalmente num país que tem de aumentar a riqueza. “Mesmo que do ponto de vista financeiro as pensões sejam sustentáveis, vamos perder nos próximos 10 a 15 anos muita força de trabalho. É essencial que o país aumente a produtividade, trabalhando melhor, com melhor gestão, apostando em sectores estratégicos.”
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