9/8/2007. O dia em que o mundo mudou mas quase ninguém deu por isso | iOnline
Não teve o impacto da falência do Lehman Brothers que, a 15 de Setembro de 2008, arrastou as bolsas para o pânico e deu início a uma onda de nacionalizações na banca, mas, na realidade, foi a 9 de Agosto de 2007 que o mundo mudou. Só que, na altura, quase ninguém previu a dimensão do desastre. Há cinco anos, neste memo dia, o banco britânico Northern Rock viu-se incapaz de se financiar nos mercados monetários mundiais, deixando de ter capacidade para fornecer hipotecas ou empréstimos aos seus clientes. Para o ex-presidente do Northern Rock, Adam Applegarth, este foi “o dia em que o mundo mudou.”
A crise do crédito não era inédita. Tinha vindo a acentuar-se aos poucos ao longo dos últimos anos, impulsionada pelo aumento dos empréstimos subprime (crédito de risco) nos Estados Unidos, onde a própria banca incentivou as pessoas a recorrerem a empréstimos bancários para compra de habitação por valores muito superiores ao que as casas valiam.
A 9 de Agosto, o medo tomou conta dos bancos que, aterrorizados com a escala da dívida tóxica no sistema, simplesmente pararam de emprestar uns aos outros, e os mercados monetários mundiais congelaram.
Nesse dia, o Banco Central Europeu e a Reserva Federal alemã tiveram de injectar conjuntamente nos mercados financeiros biliões de dólares. Só o BCE injectou mais de 203 mil milhões de euros, numa tentativa desesperada de reverter a situação. Mas isso só serviu para aumentar o pânico e os mercados mundiais entraram em queda livre.
Poucas semanas mais tarde, os depositantes do Northern Rock faziam filas à volta do quarteirão para retirar o seu dinheiro do banco, num cenário idêntico ao vivido nos Estados Unidos nos anos 20.
Foi a primeira execução de um banco britânico em mais de cem anos. Um ano depois, o Lehman Brothers entrou em colapso, levando quase todo o sistema financeiro atrás e provocando uma recessão económica global que está longe de ter chegado ao fim.
Cinco depois do início desta crise, o que aconteceu com as vítimas e os arquitectos do acidente? Como é que o mundo mudou?
O Reino Unido sofreu uma dupla recessão e a economia britânica é hoje cerca de 4% menor do que no terceiro trimestre de 2007, pese o facto de o ex-primeiro-ministro Gordon Brown continuar a afirmar que o país soube “resistir à tempestade como um tubarão”.
O debate interno centra-se hoje na capacidade de o país melhorar as condições de acesso ao crédito, com taxas de juro mais baixas, de forma a provocar um maior crescimento económico. Quanto ao mercado bolsista, o índice FTSE 100 ainda é hoje 8% inferior ao registado a 8 de Agosto de 2007.
Em simultâneo, a divida total de 11 países – Canadá, Alemanha, Grécia, França, Itália, Irlanda, Japão, Espanha, Portugal, Reino Unido e Espanha – é hoje superior à de 2007.
Pior. Segundo uma análise de Jamil Baz, director-geral do hedge fund GLG, tudo o que se passou de desagradável nos últimos anos “é apenas um motor de aquecimento para uma crise de maiores dimensões que ainda está por vir”.
Segundo o mesmo analista, a dívida de nenhum país pode ser reduzida em mais de dez pontos percentuais ao ano sem causar agitação social – o que sugere um mínimo de 15 a 20 anos para que se recuperem as condições necessárias e saudáveis para um crescimento sustentado.
Uma das maiores lições a retirar – e esta começa a transformar-se numa consciência transversal aos cidadãos do mundo ocidental – é que, durante décadas, vivemos muito acima das nossas possibilidades e há agora que aprender a viver com o que cada um tem.
Outra conclusão é que o poder político não está à altura dos desafios que se colocam na Europa e nos Estados Unidos e que começam a contagiar os países emergentes, nomeadamente os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Os vários governos europeus conseguiram provocar breves períodos de crescimento e confiança, mas ainda se está longe de conseguir um consenso e um rumo que faça prever que há uma luz, nem que seja muito ténue, ao fundo do túnel.
Finalmente, não se pode dizer que o preço da energia esteja a ajudar. O alívio de 2008, quando o preço do petróleo caiu no segundo semestre para 40 dólares o barril, foi de curta duração. Hoje, o Brent mantém-se teimosamente acima dos 100 dólares o barril.
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