Desempregados com maior risco de ataques cardíacos | iOnline
Estudo inédito da Universidade Duke sugere que perder quatro vezes o trabalho pode ser tão perigoso como fumar.
“Mesmo após acontecimentos trágicos, como a morte de um familiar ou de uma doença crónica, a maioria das pessoas recupera o bem-estar anterior quase completamente. Mas há um acontecimento para o qual isto parece não ser verdade: o desemprego.” Mais de 50 mil novos desempregados separam o mês em que Vítor Gaspar fez estas declarações, Maio, e as últimas estatísticas do INE, referentes ao terceiro trimestre. Se o impacto do desemprego no bem-estar é reconhecido por médicos, cientistas e decisores políticos, o potencial impacto sobre a saúde só agora começa a ser escrutinado. Um novo estudo dá um passo em frente neste dossiê das ciências da saúde: a condição de desempregado, dizem investigadores da Universidade Duke, parece estar associada a um risco 35% maior de sofrer um ataque cardíaco que o das pessoas empregadas.
A investigação, publicada ontem na revista “Archives of Internal Medicine”, é a maior de sempre dedicada à relação entre desemprego e doenças cardiovasculares. Abrangeu um período de 18 anos e 13 451 pessoas com idades entre os 51 e os 75 anos. Ao longo do período analisado verificaram-se na amostra 1061 enfartes agudos do miocárdio. O objectivo dos investigadores foi confrontar o historial clínico e laboral dos doentes e perceber que factores poderiam ajudar a prever o risco. A conclusão de que o desemprego tinha um peso significativo mesmo em pessoas diabéticas ou hipertensas foi a mais surpreendente, explicou ao i o coordenador da investigação, Matthew Dupre. “Estávamos à espera que o desemprego pudesse estar associado a um risco acrescido mas não que a associação se mantivesse praticamente intacta, apesar de descontarmos inúmeros factores de risco socioeconómico, comportamental ou de risco clínico.”
Para já, diz Dupre, é impossível apontar explicações: são precisos mais estudos. Porém, algumas conclusões são impressionantes: entre os indivíduos que ao longo da vida perderam o emprego quatro vezes ou mais o risco revelou-se tão elevado como nos fumadores (mais 52%). Por outro lado, parece ser maior no primeiro ano de desemprego (mais 27%), deixando a associação de ser significativa em períodos de desemprego mais prolongado.
“É demasiado cedo para sabermos que intervenções ou medidas preventivas poderiam ajudar a reduzir o risco adicional associado ao desemprego”, conclui o investigador, que acredita contudo que esta informação deverá ser usada no futuro em prevenção e poderá entrar na lista de perguntas dos médicos. Dupre afasta também extrapolações antes de novos estudos: “Não é certo que estes resultados seriam observados em Portugal ou noutros países com diferentes níveis de desempregou ou factores de risco cardiovascular.”
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