domingo, 12 de agosto de 2012

Exportações só dispararam devido à venda de ouro e combustíveis - Dinheiro Vivo

Exportações só dispararam devido à venda de ouro e combustíveis - Dinheiro Vivo

Os números positivos das exportações portuguesas estão a ser empurrados pela evolução muito favorável de dois produtos: combustíveis e ouro. A venda destas duas categorias de bens representou 41% do aumento das exportações nacionais nos primeiros seis meses do ano.

Segundo os números do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal exportou 1855 milhões de euros em combustíveis e lubrificantes no primeiro semestre. Mais 612 milhões que no mesmo período de 2011 (mais 49%). Ao mesmo tempo, a venda de ouro cresceu de 208 para 382 milhões de euros (83%). As exportações de ouro estão a aumentar há cinco anos consecutivos. Entre janeiro e junho, as empresas ganharam 132 vezes mais dinheiro com a venda de ouro que em 2007.
A soma dos dois produtos resulta num incremento de 786 milhões em relação ao ano passado. Uma fatia decisiva dos 1903 milhões de aumento das exportações. Sem combustíveis e ouro, as vendas de bens ao exterior estariam a crescer “apenas” 5,7%, em vez dos 9,1% registados desde o início do ano.
O ritmo de crescimento das exportações tem sido muito elogiado por economistas e responsáveis políticos. No entanto, alguns temem que esta evolução seja pouco sustentável. O facto de grande parte do aumento ter origem na venda destes dois produtos parece dar razão a essas preocupações.
“Não se pode dizer que esteja a acontecer algo de muito importante ou estrutural nas exportações”, explica Ana Costa, economista do ISCTE. “O saldo da balança comercial está a melhorar principalmente devido à contração do mercado interno.”
A verdade é que os portugueses estão a andar menos de carro. A redução do rendimento disponível (desemprego, corte de salários, aumento de impostos) leva a poupanças na gasolina e gasóleo. Uma tendência que se reflete na queda de 7,7% do Imposto sobre produtos petrolíferos (ISP).
A queda do consumo faz com que a Petrogal – única empresa exportadora de produtos refinados, detida pela Galp – se vire para o mercado externo, exportando a gasolina que não está a vender em Portugal. O Dinheiro Vivo sabe que este efeito de transferência ocorreu no primeiro semestre deste ano. Com o mercado a oferecer boas margens de refinação, faz sentido vender a produção que sobra para fora. Caso as margens não estivessem tão positivas, a Petrogal poderia optar por abrandar a produção. Neste semestre, a maior parte do “excedente”foi vendido a Espanha, devido à proximidade geográfica.
O problema é que, quando o consumo recuperar (as estimativas apontam para 2014), a Petrogal deverá voltar a concentrar-se no mercado interno, prejudicando as exportações.
A contribuir para uma maior venda de combustíveis está também a evolução cambial. Desde o início do ano, o euro caiu 5,8% face ao dólar, o que é especialmente relevante visto que os EUA são o principal mercado de destino da Petrogal. Ou seja, os norte-americanos estão a comprar mais barato a Portugal.
No que diz respeito ao ouro, a lógica é simples: as famílias estão a vender os objetos preciosos que detêm. Uma tendência é visível na explosão do número de pequenas lojas de compra de ouro. O crescimento é justificado por uma valorização muito forte do metal nos últimos anos, acompanhado de um grande aumento do volume. Também aqui, dificilmente este forte crescimento continuará a observar-se.
A dependência das exportações da venda destes dois produtos desenha um ponto de interrogação gigante na capacidade de manter o nível de crescimento dos últimos meses. Com Ana Baptista

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