quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Navio de transporte de gás navega pela primeira vez no Árctico na época fria - PUBLICO.PT

As alterações climáticas permitiram que a Rota do Nordeste, fechada no Inverno, passe a ser navegável mais tempo durante o ano.
 
O Verão de 2012 também fico marcado pelo degelo na Gronelândia Alistair Scrutton/Reuters


A humanidade pôde ver cenas inéditas no Árctico durante 2012. No final de Julho, a película de gelo superficial sobre a Gronelândia derreteu-se quase totalmente. Em Setembro, a área do oceano coberta com gelo atingiu um recorde mínimo. Desde então, a noite caiu no Pólo Norte e a área gelada do oceano aumentou. Mas as mudanças climáticas que estão a alterar tão profundamente aquela região influenciaram as condições marítimas e permitiram, agora, que um navio de transporte de combustível passasse pela primeira vez por uma das rotas do Árctico em plena época fria.
O Ob River, que transportou gás natural liquefeito, saiu de um porto do Norte da Noruega a 7 de Novembro. O destino era o Japão, onde chegou no início de Dezembro. Para isso, navegou pela Rota do Mar Nórdico, também conhecida por Rota do Nordeste. Esta passagem liga o oceano Atlântico ao oceano Pacífico pelo mar a norte da Rússia.
No Verão, a Rota do Nordeste tem ficado desimpedida de gelo. Em 2011, 33 navios atravessaram esta via, carregando 850.000 toneladas de mercadorias e fazendo viagens mais curtas. Mas na época fria é a primeira vez que este tipo de navio faz esta viagem comercial, que permite poupar cerca de 20 dias de navegação e muito combustível em relação a outras rotas mais comuns.
“Estudámos imensos dados de monitorização – uma tendência que se observa é que as condições do gelo estão a ficar cada vez mais favoráveis para viajar nesta rota. É possível conseguir um mercado muito lucrativo ao encurtar a distância em 40%, o que é menos 40% do combustível que se gasta”, explica Tony Lauritzen, director comercial da Dynagas, a empresa grega proprietária do navio que agora está fretado à Gazprom, a gigante russa da energia.
O navio tem uma tripulação de 40 pessoas de várias nacionalidades. “As pessoas a bordo viram ursos polares. Já tínhamos uma planificação da viagem há muito tempo”, refere Lauritzen, em declarações dadas à BBC News.

Pólo em mudança
Em Setembro, o Ob River tinha partido do Japão e atravessou o pólo Norte, no sentido inverso da mesma rota, chegando à Noruega no mês seguinte. Mas na viagem de agora não está sozinho. A cada mês que passa, os mares do Árctico vão-se cobrindo de gelo, e o navio foi acompanhado por um quebra-gelo russo movido a energia nuclear.
A 16 de Setembro, a área com gelo sobre o mar era de apenas 3,61 milhões de quilómetros quadrados, o que é menos 690 mil do que o recorde mínimo anterior, alcançado em 2007. Passados pouco mais de dois meses, no final de Novembro, o gelo sobre o mar voltava a crescer e já tinha ultrapassado os 10 milhões de quilómetros quadrados, segundo o Centro Nacional de Dados de Neve e do Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, sigla em inglês).
Apesar de o gelo de Inverno estar a crescer a bom ritmo, a dinâmica no Árctico está a sofrer mudanças. “O volume do gelo tem continuado a diminuir a cada ano desde 2007, apesar de a extensão no Verão só ter atingido o recorde mínimo este ano. A diminuição da espessura do gelo é o motor principal para o recorde deste ano”, explica ao PÚBLICO Julienne Stroeve, especialista no estudo e monitorização dos gelos do NSIDC.
A diminuição da espessura do gelo faz com que, de ano para ano, a área de gelo recente seja cada vez maior. “Este gelo é mais propenso a derreter, por isso podemos esperar situações de pouco gelo a cobrir o mar nos próximos verões”, alerta a investigadora.
Esta rapidez ultrapassa o que os modelos climáticas apontavam. Num dos cenários, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas dizia que o Árctico estaria livre de gelo no Verão de 2045. Mas Julienne Stroeve não põe de parte testemunharmos esse marco histórico muito mais cedo, já em 2020. Então, esse será um evidente sinal verde para as rotas comerciais marítimas pelo Árctico.

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