Mercados de olhos postos na Itália. Monti demite-se, mas pode candidatar-se a eleições | iOnline
Primeiro-ministro tecnocrata vai sair depois da aprovação do orçamento, mas não exclui recandidatar-se.
Mario Monti não foi eleito, foi convidado a liderar um governo tecnocrata para resgatar Itália da crise profunda há pouco mais de um ano. Escreveu como seu desígnio – e como nome do programa de austeridade que lançou – “salvar Itália”. Anunciou no sábado ao presidente da república italiano Giorgio Napolitano que iria abandonar o governo depois de aprovado o orçamento para o próximo ano por falta de confiança política dos partidos que o apoiavam, o bloco do Povo da Liberdade (PdL). Os mercados financeiros respondem hoje à maior preocupação dos italianos e da Europa.
Com a crise europeia sem fim à vista, as atenções viram-se para Itália em semana de novo Conselho Europeu onde estará em cima da mesa, de novo, o mecanismo de supervisão bancária. Hoje, os mercados financeiros abrem e darão nota das preocupações. Aliás, o encerramento dos mercados da dívida durante o fim-de-semana foi um dos pontos que levou Mario Monti a apresentar a Napolitano a sua intenção de se demitir. E o presidente da república não escondeu a importância da reacção dos mercados financeiros, para um país que vive a braços com uma dívida pública elevada (que atingirá o pico de cerca de 128% do PIB em 2013). No rescaldo da demissão do primeiro-ministro tecnocrata – que se vai concretizar nos próximos dias depois da aprovação do Orçamento do Estado italiano para 2013 – Napolitano apenas desabafou: “Vamos ver o que vão fazer na segunda-feira”, referindo-se aos mercados da dívida.
O choque na Itália chegou rapidamente ao resto da Europa. O presidente da Comissão Europeia Durão Barroso alertou de imediato para o facto de o futuro governo italiano ter de continuar o trabalho desenvolvido por Monti. “As próximas eleições não devem servir como pretexto para se colocar em dúvida a indispensabilidade destas medidas”, disse referindo-se à reforma da economia italiana levada a cabo pelo primeiro-ministro. Barroso acenou ainda com o perigo de os investidores voltarem a castigar os países europeus: “A relativa calma dos mercados não significa que estejamos fora da crise”, disse ao jornal italiano “Il sole 24 ore”. Os holofotes estão virados para o colosso italiano, uma vez que depois de Grécia, Portugal, Irlanda, a Espanha e a Itália são os países em maior risco.
Durante o ano de governo tecnocrata liderado por Monti, os títulos da dívida a dez anos desceram dos quase 7% (chegaram mesmo a ultrapassar a barreira dos 7% entre Dezembro e Janeiro do ano passado) para cerca de 4,5%. E a intenção do ministro das Finanças era de fazer cair o nível da dívida pública com a ajuda de privatizações. Mas se os investidores pareciam ter a austeridade de Monti em boa conta, os italianos foram deixando de confiar, e o primeiro-ministro acabou por denotar uma quebra na popularidade de acordo com as últimas sondagens.
Politicamente, a proximidade de eleições legislativas ordinárias – se Monti não se tivesse demitido aconteceriam durante a Primavera – levou o PdL a cortar com o governo e a retirar a confiança política ao abster-se, na última semana, na votação de uma moção de confiança ao executivo.
Sem o apoio do PdL (o partido de Silvio Berlusconi), Mario Monti apresentou a intenção de abandonar o executivo uns meses mais cedo do que estaria previsto. Mas não pôs de parte a hipótese de se candidatar ao cargo nas eleições que devem acontecer logo em Fevereiro, de acordo com a imprensa italiana. Num passeio ontem à tarde em Milão, Monti foi aplaudido e disse estar “mais livre”, não fechando a porta a uma candidatura nas eleições legislativas. Há mesmo quem o aponte como um bom candidato à Presidência da República.
Certo é que se concorrer nas próximas eleições legislativas terá de o fazer contra Silvio Berlusconi que já disse que será candidato (ver ao lado). O jogo político do PdL começou na semana passada com o distanciamento às medidas tomadas por Monti. Além da moção de confiança, votaram contra Monti em mais uma proposta, apesar de garantirem que vão aprovar o orçamento do próximo ano. Angelino Alfano, o secretário-geral do PdL defendeu a posição do partido dizendo que impediram “que o país caísse no abismo”. Além de “erros da esquerda”, o dirigente do PdL apontou “erros importantes do governo Monti” que passaram pela reforma do mercado do trabalho, “próxima das posições da esquerda”, disse, e até pôs em causa a posição italiana sobre a votação da Palestina para a ONU.
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