Realidade virtual e
computação avançada permitiram a recuperação do controlo de músculos que, há
décadas, não eram dominados por estes pacientes
Depois de dez meses de
"treino cerebral", oito paraplégicos conseguiram mexer as pernas e
recuperar alguma sensibilidade nessa região do corpo. Esta conquista inédita
resulta de um prática experimental que recorreu a um exoesqueleto artificial,
dispositivos de realidade virtual e sistemas não invasivos que ligam o cérebro
a um computador para reintroduzir nesses pacientes a consciência da decisão do
movimento.
A descoberta parece sugerir
que, mesmo quando a rotura da espinhal medula é considerada total, os tecidos
nervosos dessa região permanecem abertos aos estímulos, explicam os cientistas
no artigo publicado na Scientific Reportscitado
pelo The Guardian.
A experiência foi realizada no Brasil, em São Paulo.
Todos os pacientes
relataram a restauração parcial dos movimentos musculares e da sensibilidade e,
embora nenhum deles consiga andar sem ajuda, alguns conseguem fazê-lo com a
simples ajuda de muletas e de equipamento que apoie as pernas.
Cada participante foi
equipado com um conjunto de elétrodos que permitiram o registo dos sinais dos
eletroencefalogramas (avaliação da atividade bioelétrica do cérebro), durante
os quais os cientistas pediram aos pacientes que "pensassem" em mover
as pernas. Inicialmente, nenhum deles conseguia fazê-lo.
A introdução dos
dispositivos de realidade virtual, aparelhos de auxílio dos movimento (usados
na fisioterapia comum) e arneses completos marcaram o estágio seguinte da
pesquisa que integra o programa
internacional Walk Again.
O uso de realidade virtual
acabou por permitir a produção da ilusão do movimento das pernas e simulou
sensações distintas como andar na relva ou na areia. Gradualmente e a ritmos
diferentes, os participantes começaram assim a sentir reações musculares
voluntárias abaixo da área da rotura da espinhal medula.
"Tropeçamos nesta
recuperação clínica, o que é quase um sonho, porque levou a abordagem para um
nível totalmente novo", conta Miguel Nicolelis, co-diretor do Centro de
Neuroengenharia da Universidade de Duke e investigador na Associação de
neuroreabilitação Alberto Santos Dumont em São Paulo.
Agora, dez meses depois, um
dos pacientes foi já capaz de sair de casa e conduzir um carro. Outra de dar à
luz, sentindo, efetivamente, as contrações. Alguns foram requalificados como
"parcialmente paralisados".
O ensaio clínico cujo
objetivo original era melhorar a eficácia das próteses robóticas comandadas
pelo cérebro submeteu os oito participantes a mais de duas mil sessões de
"treino cerebral" num total que mais de duas mil horas. Embora tenham
registado melhorias significativas (e surpreendentes), estes pacientes
continuam o treino inovador.
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