Diogo D'Orey/Liquideye
Garrett McNamara estava ontem escarrapachado na manchete do site do “Daily Mail”. Ao mesmo tempo a Sic Notícias publicava um vídeo com ondas do surfista norte-americano (mas de um português também), lançando a hipótese de um novo recorde. Aos olhos do comum espectador, atento às dimensões do mar – falam em ondas de quase 30 metros –, António Silva, surfista da praia Grande, passou injustamente despercebido. O palco era de McNamara.
Não queremos com isto retirar o mérito ao surfista residente no Havai – desde 2010 a mostrar ao mundo do surf o que a praia no Norte tem de melhor –, mas sim dar a conhecer quem por cá faz o mesmo. Ontem à noite, o “Record”, o único jornal nacional a tocar no assunto, embora muito ao de leve, publicava uma fotografia (após um alarido na sua página de Facebook com os utilizadores a chamarem a atenção para o que é nosso) com a legenda: “Português imitou Garrett McNamara”.
A descrição não faz jus aos cojones (perdoem-nos a expressão, mas o termo encaixa aqui que nem uma luva) do surfista, o único português dentro de água na segunda-feira na Nazaré. Por isso mesmo, entrámos em contacto com ele. “Vimos que o mar estava gigante e que era o dia H para ir para a Nazaré. Quando lá chegámos o Garrett já estava na água”, conta Toni, como é conhecido pelos amigos.
“Apanhei umas quantas ondas, a melhor foi uma direita. Estavam moles, quebravam muito pouco, e a direita que apanhei foi das poucas enquanto estive na água que rebentou mesmo no canhão [acidente geomorfológico raro que faz com que se formem ondas de grandes dimensões]. Quanto ao tamanho da onda, não sei. A do Garrett é maior que a minha, mas a questão é: a onda quebrou? Acho muito mais impressionante a onda que ele apanhou há dois ou três anos. Mas o mar estava gigante, deve ter sido o maior mar já surfado na Nazaré.” Aquilo que para a maioria dos leitores poderá parecer preciosismo, não é – nestas condições do mar, uma onda que rebenta, mesmo sendo menor, é muito mais perigosa que as que não quebram.
Uma das razões pelas quais António não foi um dos protagonistas do espectáculo, que dá pelo nome de Zon North Canyon Show, está no facto de ter sido aparentemente posto de parte pela própria organização. “Ontem senti-me excluído, como se estivesse ali a mais”, afirmou, confessando que gostava de ter mais condições para repetir a proeza. O sentimento de exclusão também tocou Diogo D’Orey, fotógrafo brasileiro que estava com o surfista português. “Na Nazaré tem o forte ali bem na ponta e estava fechado. Quando cheguei estavam também chegando os fotógrafos do Garrett e eu, como não sabia que não podia entrar, acabei entrando com eles. Quando estava lá dentro uma das pessoas da organização veio para cima de mim e falou que eu não podia estar ali. E eu falei: ‘Mas eu estou fazendo a segurança do António, não é importante que tenha aqui alguém fazendo a segurança dele, o único português na água?’ E aí o cara falou: ‘Segurança, você pode fazer, fotos não.’”
Além de estar a captar imagens, D’Orey estava com um walkie-talkie, através do qual ia comunicando com a pessoa que estava dentro de água com uma mota de água a dar assistência a António. “Eu queria estar dentro do forte porque lá fora é um caminho superestreito e um barranco. Então não havia muito espaço e já havia muita gente ali olhando. É uma vista privilegiada porque você está mais de cima”, acrescentou o carioca.
Confrontado com o sentimento de exclusão acima referido, Pedro Pisco, um dos organizadores do evento, afirmou que o acesso ao forte apenas é permitido quando se trata de garantir a segurança dos surfistas. “É muito mais fácil, se estivermos numa posição mais alta, conseguirmos saber onde é que os surfistas caem para facilitar o seu resgate”, explicou. Já D’Orey garantiu que no local estavam outros fotógrafos.
“Efectivamente estava presente quando entrou um senhor que se identificou como pertencendo à equipa do surfista português. Dissemos-lhe que não podia lá estar e ele respondeu estar ali unicamente por questões de segurança. E nós respondemos: ‘Ok, por questões de segurança pode estar aqui. Agora para recolha de imagens para fins comerciais não’”, recorda, sublinhando que os fotógrafos e operadores de câmara que entraram no forte estavam a recolher imagens “por questões de segurança”. Quanto à presença de fotógrafos para fins comerciais no local, Pisco afirma não ter conhecimento.
Por seu turno, e contradizendo em parte a organização, o comandante Jorge Manuel Lourenço Gorricha, capitão do porto da Nazaré e responsável pela gestão do forte, explicou ao i que o acesso ao local é “condicionado mediante autorizações pontuais que normalmente são solicitadas dentro da estrutura da autoridade marítima”. “Neste caso, e atento à urgência da situação que me foi apresentada no próprio dia, foi de facto autorizada a entrada de um conjunto de jornalistas para tirar fotografias do forte. Não estava autorizada a entrada de outras pessoas além dessas. Se tivessem sido solicitadas mais entradas, seriam muito provavelmente analisadas da mesma forma que a situação anterior.”
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